Guia clínico sobre valvulopatias: estenose e insuficiência mitral, estenose e insuficiência aórtica, valvopatias tricúspides, diagnóstico clínico, exames complementares, tratamento farmacológico e cirúrgico.
O que são Valvulopatias?
As valvulopatias são doenças que afetam as válvulas cardíacas, podendo ser primárias (lesão estrutural da valva) ou secundárias (alterações no ventrículo ou átrio que impedem o funcionamento adequado da valva)
- A principal causa mundial ainda é a febre reumática, responsável por até 70% dos casos em países em desenvolvimento.
- Em países desenvolvidos, predominam as valvopatias degenerativas (calcificação, envelhecimento, prolapso).
- Outras etiologias: endocardite infecciosa, doenças autoimunes (LES, AR), cardiomiopatias e síndromes genéticas (Marfan, Ebstein).
Sintomas
- Dispneia → mais comum nas valvopatias mitrais.
- Dor torácica, síncope e angina → típicos da estenose aórtica.
- Palpitações → frequentes em valvopatias mitrais devido à sobrecarga de átrio esquerdo.
- Rouquidão (Síndrome de Ortner): compressão do nervo laríngeo pelo átrio esquerdo dilatado.
- Em fases avançadas, todas as valvulopatias podem causar insuficiência cardíaca.
Exame Físico
- Estenose mitral:
- B1 e B2 hiperfonéticas.
- Estalido de abertura (patognomônico da febre reumática).
- Sopro em ruflar diastólico, reforço pré-sistólico.
- Insuficiência mitral:
- Sopro holossistólico em barra, geralmente com B1 hipofonética.
- Em casos agudos: disfunção ventricular rápida, congestão pulmonar.
- Estenose aórtica:
- Pulso parvus et tardus (amplitude reduzida, pico tardio).
- Sopro sistólico rude, irradiado para carótidas.
- Hipofonese de A2 em casos graves.
- Insuficiência aórtica:
- Sopro diastólico aspirativo.
- Sinais periféricos: pulso de Corrigan, sopro de Austin Flint.
- Na forma aguda: sopro proto/mesodiastólico curto, pouca dilatação ventricular.
- Valvopatias tricúspides:
- Sopros aumentam com inspiração profunda (sinal de Rivero-Carvallo).
- Estalido de abertura e reforço pré-sistólico na estenose tricúspide.
- Sopros holossistólicos de insuficiência tricúspide irradiando para borda esternal.
Diagnóstico
- Exames iniciais: ECG, Raio-X de tórax e ecocardiograma transtorácico (ECO TT).
- Ecocardiograma transesofágico (ECO TE): útil para avaliar trombo em átrio esquerdo e anatomia valvar.
- Teste ergométrico: avalia sintomas ocultos em valvopatias aparentemente assintomáticas.
- Cateterismo cardíaco: indicado em candidatos a cirurgia com risco de DAC associada (homens > 40 anos, mulheres > 45 anos ou pós-menopausa).
Tratamento Farmacológico
- Objetivo: apenas controle de sintomas – não altera a progressão da doença.
- Furosemida e espironolactona: reduzem congestão.
- Betabloqueadores/verapamil/diltiazem: úteis em estenose mitral com FA ou taquicardia, pois aumentam tempo diastólico.
- Anticoagulação: indicada em FA, trombo atrial ou história de eventos embólicos.
- Contraindicação: novos anticoagulantes não devem ser usados em próteses mecânicas e estenose mitral importante.
Intervenções
- Estenose mitral:
- Valvotomia percutânea (balão de Inoue) se anatomia favorável (Escore de Wilkins < 8).
- Cirurgia (troca valvar) em casos com contraindicação para percutânea.
- Insuficiência mitral:
- Preferir plastia mitral sempre que possível.
- Em risco cirúrgico alto: MitraClip.
- Estenose aórtica:
- Cirurgia convencional (troca valvar aórtica).
- TAVR: indicada em pacientes com risco cirúrgico intermediário/alto (ensaios PARTNER e EVOLUTE).
- Insuficiência aórtica:
- Cirurgia é padrão-ouro.
- Reparo valvar ou TAVR em casos selecionados.
- Valvopatias tricúspides:
- Plástica com anel protético preferida.
- Evitar próteses mecânicas na posição tricúspide.
- Estenose tricúspide:
- Tratamento de escolha: valvoplastia percutânea, se anatomia adequada.
Conclusão
As valvulopatias constituem um grupo heterogêneo de doenças que exigem diagnóstico clínico detalhado, exame físico minucioso e confirmação por ecocardiograma.
O tratamento clínico alivia sintomas, mas a intervenção cirúrgica ou percutânea é fundamental para modificar a história natural da doença.
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