Guia clínico atualizado sobre endocardite infecciosa: fatores de risco, agentes causadores, diagnóstico clínico, critérios de Duke, tratamento antibiótico, complicações e indicações cirúrgicas.
O que é Endocardite Infecciosa?
A endocardite infecciosa (EI) é uma infecção microbiana que acomete a superfície endotelial do coração, principalmente as valvas cardíacas.
- No Brasil, o principal fator de risco ainda é a doença reumática, e o agente mais comum é o Streptococcus viridans.
- Em países desenvolvidos, predomina o Staphylococcus aureus.
- Apesar dos avanços, a doença mantém alta mortalidade e risco de complicações graves.
Fisiopatologia
Ocorre pela colonização bacteriana do endocárdio em áreas previamente lesadas (ex.: valva reumática, prótese, cardiopatia congênita) ou em válvulas normais após bacteremia significativa.
A formação de vegetações resulta da interação entre trombos estéreis, plaquetas, fibrina e microrganismos.
Manifestações Clínicas
- Sopro novo ou alteração de sopro pré-existente (80%).
- B3 em casos evoluindo para IC.
- Nódulos de Osler (dolorosos, imunes) e manchas de Janeway (indolores, vasculares).
- Comprometimento neurológico: AVC isquêmico ou hemorrágico.
- Esplenomegalia ou dor abdominal por infartos esplênicos.
Exames Diagnósticos
- Hemoculturas: devem ser coletadas antes do início do antibiótico; na EI a bacteremia é contínua.
- Até 31% das hemoculturas podem ser negativas, especialmente após uso prévio de antibióticos, infecções fúngicas ou bactérias fastidiosas.
- Ecocardiograma transtorácico (ECO TT): exame inicial.
- Ecocardiograma transesofágico (ECO TE): indicado quando há alta suspeita ou prótese valvar.
- Padrão-ouro: avaliação histológica da valva.
Principais Agentes
- Streptococcus, Staphylococcus, Enterococcus.
- Usuários de drogas IV: geralmente Staphylococcus aureus, mais em valva tricúspide.
- Streptococcus bovis (gallolyticus): sempre investigar câncer de cólon.
Tratamento Antimicrobiano
- Sempre baseado em hemocultura e perfil do paciente.
- Uso de associação bactericida + bacteriostática (betalactâmicos + aminoglicosídeos/glicopeptídeos).
- Duração:
- Valvas nativas: 4–6 semanas.
- Prótese valvar: ≥ 6 semanas.
- Particularidades:
- Aminoglicosídeos em dose única diária (reduz nefrotoxicidade).
- Rifampicina recomendada em EI de prótese valvar.
Indicações Cirúrgicas
- Insuficiência cardíaca refratária.
- Infecção persistente apesar da antibioticoterapia.
- Abscesso perivalvar.
- Vegetações > 10 mm com embolização recorrente.
- Endocardite de prótese precoce (< 1 ano, geralmente por germes resistentes).
Complicações
- Abscesso perivalvar: mais comum em valva aórtica (junção mitroaórtica).
- Embolização: até 50% dos pacientes, principalmente em cérebro e baço, nas primeiras 2 semanas.
- Aneurismas micóticos e AVC.
- Endocardite de dispositivos (CDI/MP): 20% dos casos, geralmente por Staphylococcus.
Profilaxia
Indicada apenas em grupos de alto risco:
- Portadores de próteses valvares.
- História prévia de EI.
- Algumas cardiopatias congênitas.
- Transplante cardíaco com valvopatia.
- Procedimentos odontológicos de risco → usar amoxicilina (ou alternativa em alérgicos).
Conclusão
A endocardite infecciosa é uma condição grave, que exige diagnóstico precoce, coleta adequada de hemoculturas e tratamento antimicrobiano prolongado.
Em casos selecionados, a cirurgia é essencial para reduzir mortalidade.
A profilaxia deve ser restrita a pacientes de alto risco em situações específicas.
Quer dominar as principais emergências cardiovasculares na prática?
No Curso Coração Blindado, você vai aprender passo a passo a conduzir arritmias, síndromes coronarianas, insuficiência cardíaca, valvopatias críticas e muito mais, com segurança e confiança no pronto-socorro. Saiba mais.