Guia clínico atualizado sobre atropina: indicações na emergência, dose em adultos e crianças, contraindicações, efeitos adversos e referências.

O que é a Atropina?
A Atropina é um fármaco anticolinérgico, antagonista competitivo da acetilcolina nos receptores muscarínicos.
Na prática de emergência, é utilizada principalmente no manejo de bradiarritmias sintomáticas e em situações de intoxicação colinérgicaLivro Prescrições na Emergência….
Mecanismo de Ação
- Bloqueia receptores muscarínicos M2 no coração → aumento da frequência cardíaca.
- Inibe secreções glandulares (saliva, secreções respiratórias).
- Relaxa musculatura lisa brônquica.
- No sistema nervoso central, pode atravessar a barreira hematoencefálica, gerando efeitos centrais em altas doses.
Indicações na Emergência
- Bradicardia sintomática (primeira droga de escolha no ACLS).
- Assistolia/atividade elétrica sem pulso (AESP) – já teve papel, mas não é mais recomendada nas diretrizes atuais do ACLS.
- Intoxicação por organofosforados (inseticidas, armas químicas).
- Bloqueio atrioventricular de 1º grau sintomático.
- Pré-anestesia: reduzir secreções orais e brônquicas.
Posologia
Bradicardia (ACLS)
- Adultos: 1 mg IV a cada 3–5 min, até dose máxima de 3 mg.
- Crianças: 0,02 mg/kg IV/IO (mínimo 0,1 mg, máx. 0,5 mg/dose). Pode repetir uma vez.
Intoxicação por Organofosforados
- Adultos: 2–4 mg IV a cada 5–10 min, repetir até secreções secarem e FC normalizar.
- Crianças: 0,05 mg/kg IV/IM a cada 5–10 min, repetir conforme resposta clínica.
Contraindicações
- Glaucoma de ângulo fechado.
- Hipertrofia prostática grave com retenção urinária.
- Taquiarritmias.
- Miastenia grave (exceto em intoxicação colinérgica).
Efeitos Adversos
- Cardíacos: taquicardia, palpitações.
- Neurológicos: agitação, confusão, alucinações (altas doses).
- Oculares: midríase, visão borrada, fotofobia.
- Gastrointestinais: boca seca, constipação, íleo paralítico.
- Outros: retenção urinária, pele seca e quente (“sinal colinérgico reverso”).
Cuidados na Emergência
- Em bradicardia sintomática, se atropina for ineficaz, deve-se considerar marcapasso transcutâneo ou drogas alternativas (dopamina, adrenalina).
- Na intoxicação por organofosforados, pode ser necessária dose total muito elevada (gramas em alguns casos).
- Monitorar ECG, sinais vitais e nível de consciência durante uso.
Conclusão
A Atropina é um fármaco essencial na emergência, sendo a primeira escolha para bradiarritmias sintomáticas e para o tratamento de intoxicações por organofosforados.
Apesar da eficácia, deve ser usada com cautela devido aos efeitos colinérgicos reversos e contraindicações específicas.
Referências
- Livro Prescrições na Emergência
- Panchal AR, et al. 2020 AHA Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation.
- Brunton LL, et al. Goodman & Gilman’s: The Pharmacological Basis of Therapeutics.
- Medscape – Atropine Drug Monograph.
❓ FAQ – Atropina
Qual a dose de atropina na bradicardia sintomática?
1 mg IV a cada 3–5 min, até máximo de 3 mg em adultos.
Crianças podem receber atropina?
Sim, na dose de 0,02 mg/kg IV/IO, respeitando dose mínima de 0,1 mg e máxima de 0,5 mg por aplicação.
A atropina ainda é usada na AESP/assistolia?
Não, as diretrizes mais recentes do ACLS não recomendam seu uso nesses ritmos.
Qual a principal indicação além da bradicardia?
O tratamento da intoxicação por organofosforados.
Quais são os principais efeitos adversos?
Taquicardia, boca seca, midríase, retenção urinária e, em altas doses, delírio e alucinações.