Guia atualizado sobre taquiarritmias na emergência: como diferenciar supraventriculares e ventriculares, algoritmos diagnósticos, tratamento inicial e condutas práticas.
O que são Taquiarritmias?
As taquiarritmias são arritmias cardíacas caracterizadas por frequência cardíaca elevada (geralmente > 100 bpm), podendo ter origem supraventricular ou ventricular.
Diferenciar corretamente o tipo de taquiarritmia é essencial, pois o tratamento varia e algumas formas podem evoluir para morte súbita cardíaca .
Classificação das Taquiarritmias
- Supraventriculares (TSV): originadas acima do feixe de His. Geralmente apresentam QRS estreito (<120 ms).
- Ventriculares (TV): originadas abaixo do feixe de His. Costumam ter QRS largo (>120 ms).
Nos casos de QRS largo, a probabilidade é:
- 81% → taquicardia ventricular.
- 14% → TSV com aberrância.
- 5% → taquicardia atrioventricular antidrômica .
Critérios Diagnósticos Importantes
Para diferenciar taquiarritmias de QRS largo, utilizam-se algoritmos específicos:
- Critérios de Brugada.
- Critérios de Vereckei.
- Algoritmo de Santos .
Taquiarritmias Supraventriculares
Taquicardia por Reentrada Nodal (TRN)
- Mais comum das TPSV (≈ 56%).
- Intervalo RP < 70 ms.
- Onda P retrógrada visível como pseudo-S em DII ou pseudo-R em V1.
- Sinal de “frog” (pulso jugular visível).
- Prognóstico geralmente benigno .
Taquicardia Atrioventricular (TAV) – Síndrome de Wolff-Parkinson-White
- Presença de via acessória com pré-excitação ventricular.
- ECG: PR curto + onda delta + QRS largo.
- Pode evoluir para fibrilação ventricular → risco de morte súbita.
- Tratamento definitivo: ablação por radiofrequência (sucesso 85–95%).
- Contraindicado usar digoxina, bloqueadores de cálcio, betabloqueadores e adenosina em FA com WPW .
Tratamento das TPSV
- Instabilidade hemodinâmica → cardioversão elétrica sincronizada (CVES).
- Estável → manobras vagais → adenosina (6–12 mg) → alternativas: verapamil, diltiazem, metoprolol .
Taquiarritmias Ventriculares
Extrassístoles Ventriculares (EV)
- Batimentos ectópicos precoces, QRS largo e onda T oposta ao QRS.
- Tratamento se sintomas, TVNS frequente ou risco de taquicardiomiopatia.
- Opções: betabloqueadores, amiodarona, ablação em casos refratários .
Taquicardia Ventricular (TV)
- ≥ 3 batimentos consecutivos com QRS largo.
- Sustentada: > 30 s ou com instabilidade.
- Diagnóstico auxiliado por batimentos de captura/fusão.
- Instabilidade → desfibrilação imediata.
- Estável → amiodarona, lidocaína ou betabloqueadores, dependendo do contexto clínico .
Torsades de Pointes
- Associada ao QT longo congênito ou adquirido.
- Tratamento: sulfato de magnésio 1–2 g EV, marcapasso temporário, isoproterenol em casos selecionados .
Arritmias Hereditárias
- Síndrome de Brugada: mutação em canais de sódio → risco de FV e morte súbita.
- Síndrome do QT longo congênita: mutações em canais iônicos → risco de torsades.
- Taquicardia ventricular catecolaminérgica: desencadeada por estresse físico/emocional.
- Displasia arritmogênica do VD: substituição fibrogordurosa do miocárdio → alto risco de morte súbita .
Conclusão
As taquiarritmias representam um dos maiores desafios no pronto-socorro, variando desde arritmias benignas até ritmos de alto risco de morte súbita.
O ECG é a principal ferramenta diagnóstica, auxiliado por algoritmos como Brugada e Vereckei.
O tratamento deve ser guiado pela estabilidade clínica do paciente, podendo incluir desde manobras vagais até cardioversão elétrica e uso de antiarrítmicos.
Referências
- Al-Khatib SM, et al. 2017 AHA/ACC/HRS Guideline for Management of Patients With Ventricular Arrhythmias. Circulation.
- Brugada P, et al. A new approach to the differential diagnosis of a regular tachycardia with a wide QRS complex. Circulation.
- Kirchhof P, et al. 2020 ESC Guidelines for atrial fibrillation. Eur Heart J.
❓ FAQ – Taquiarritmias
Como diferenciar taquiarritmia supraventricular de ventricular?
Pelo QRS: estreito (< 120 ms) sugere supraventricular; largo (> 120 ms) sugere ventricular.
O que é o sinal de “frog”?
É a pulsação visível no pescoço durante TRN, causada pela contração atrial contra válvulas AV fechadas.
Qual o tratamento inicial da TPSV instável?
Cardioversão elétrica sincronizada imediata.
Quais drogas não devem ser usadas em FA com WPW?
Digoxina, bloqueadores de cálcio, betabloqueadores e adenosina.
Qual a droga de escolha para Torsades de Pointes?
Sulfato de magnésio 1–2 g EV.
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