Introdução
O eletrocardiograma (ECG) continua sendo uma ferramenta essencial para o diagnóstico da pericardite aguda. Apesar de simples, ele fornece sinais característicos que ajudam a diferenciar essa condição de outras entidades críticas, como o infarto agudo do miocárdio.
Segundo a Diretriz ESC 2025, alguns achados eletrocardiográficos permanecem como pilares do diagnóstico, mas é fundamental reconhecer suas limitações e aplicabilidade clínica.
👉 Palavras-chave: pericardite aguda, sinal de Spodick, infra de PR, supra difuso de ST, alterações ECG pericardite, guideline ESC 2025
Principais alterações no ECG da pericardite aguda
1. Sinal de Spodick – Infra de TP

- Descrito por Spodick em 1974, é considerado o sinal mais característico da pericardite aguda.
- Representa um rebaixamento oblíquo descendente do segmento TP.
- Mais comum em derivações inferiores (DII, DIII, aVF).
- Possui razão de verossimilhança positiva (RV+) ≈ 5,8 segundo Witting et al., 2020.
⚠️ Importante: Não confundir com o infra de PR.
2. Infra de PR / PQ

- Segundo sinal mais comum, frequentemente associado ao sinal de Spodick.
- Sensibilidade: moderada (25–50%).
- Especificidade: maior, pois o infra de PR é incomum em IAM ou repolarização precoce.
- Observado principalmente em derivações inferiores e precordiais esquerdas.
3. Supra de ST difuso
- Elevação difusa e côncava do segmento ST, que não respeita paredes específicas.
- Diferença fundamental em relação ao IAM: ausência de padrão topográfico.
- Dicas para diferenciar de repolarização precoce:
- ST/T ratio em V6 ≥ 0,25 → favorece pericardite.
- Notching terminal do QRS favorece repolarização precoce.
- Depressão de PR associada favorece pericardite.
4. Inversão de onda T
- Ocorre nas fases tardias da pericardite.
- Mais comum quando há miopericardite (troponina elevada + alterações difusas).
5. Baixa voltagem do QRS
- Relacionada a grande derrame pericárdico ou tamponamento.
- O líquido funciona como “isolante elétrico”, reduzindo a amplitude do QRS.
- Reversível após pericardiocentese ou tratamento anti-inflamatório eficaz.
Pontos práticos

- O sinal de Spodick é o mais confiável, mas não está presente em todos os casos.
- Infra de PR é menos sensível, mas mais específico.
- O supra difuso de ST é o achado mais lembrado, mas precisa ser diferenciado de IAM e repolarização precoce.
- A clínica é soberana — não existe diagnóstico apenas pelo ECG.
- Derrame volumoso → pense em baixo QRS e possível tamponamento.
Conclusão
O ECG na pericardite aguda segue sendo um recurso indispensável, mas exige olho clínico treinado para reconhecer padrões e diferenciá-los de diagnósticos críticos como infarto agudo do miocárdio.
A diretriz ESC 2025 reforça a importância de associar os achados eletrocardiográficos à história clínica, biomarcadores e exames de imagem para garantir precisão diagnóstica e segurança terapêutica.

Referências:
- Schulz-Menger J, Collini V, Gröschel J, et al. 2025 ESC Guidelines for the management of myocarditis and pericarditis. Eur Heart J. 2025.
- Witting MD, Hu KM, Westreich AA, Tewelde S, Farzad A, Mattu A. Evaluation of Spodick’s sign and other electrocardiographic findings as indicators of STEMI and pericarditis. J Emerg Med. 2020;58:562–569.
- Spodick DH. Electrocardiogram in acute pericarditis. Am J Cardiol. 1974;33(4):470–474.
- Cremer PC, Klein AL, Imazio M. Diagnosis, risk stratification, and treatment of pericarditis: a review. JAMA. 2024;332(13):1090–1100.
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