ACLS 2025 – O que realmente mudou nas novas diretrizes da American Heart Association?

As atualizações das diretrizes da American Heart Association (AHA) sempre geram grande repercussão entre os profissionais de saúde, especialmente aqueles que atuam na linha de frente do atendimento a pacientes em parada cardiorrespiratória (PCR). A versão 2025 do Advanced Cardiovascular Life Support (ACLS) não foi diferente — gerou dúvidas, receios e, para alguns, até um certo alarde.

Mas a pergunta que realmente importa é: o que de fato mudou? E o que você precisa saber para manter um atendimento eficiente, baseado em evidência e com raciocínio clínico?

Neste artigo, vamos revisar ponto a ponto as principais alterações do guideline ACLS 2025, entender o racional por trás delas e, principalmente, mostrar o que realmente importa na prática.

Sumário:

  1. Introdução: O que realmente mudou no ACLS 2025?
  2. Prancha Rígida: foco nas compressões, não na imobilização
  3. Controle de Temperatura: reforço na prevenção da hipertermia
  4. Meta de Pressão Arterial: individualização no pós-ROSC
  5. Uso do Bicarbonato: indicação mantida, mas reforçada
  6. Epinefrina no pós-PCR: o risco do engessamento do raciocínio clínico
  7. Oxigenação: evitar hiperóxia continua sendo regra
  8. Manejo das Convulsões: fenitoína fora do cenário agudo
  9. Reflexão Crítica: quando o guideline esquece o essencial
  10. O que realmente importa você saber no ACLS
  11. Conclusão: Estude com raciocínio, não com decoreba

1. Prancha Rígida: Fim da obrigatoriedade

Diretriz 2025: não se recomenda mais o uso rotineiro da prancha rígida durante a ressuscitação.

Interpretação clínica: Nenhuma mudança real. A AHA apenas reforçou o que já sabemos há anos — o foco da RCP de alta qualidade está nas compressões torácicas eficazes e na desfibrilação precoce. A superfície rígida não deve atrasar ou prejudicar o atendimento. Mantenha a taxa de compressão alta (idealmente, acima de 80% do tempo total da RCP) e priorize a desfibrilação nos ritmos chocáveis.


2. Controle de Temperatura: Oficializando o bom senso

Diretriz 2025: manter temperatura entre 32 e 37,5ºC nas primeiras 24 horas após o retorno da circulação espontânea (ROSC).

Interpretação clínica: Essa recomendação já existia em edições anteriores, com foco na prevenção da hipertermia. A febre no pós-PCR deve ser combatida independentemente da causa, pois está associada a pior desfecho neurológico.


3. Pressão Arterial Média (PAM): Reforço na individualização

Diretriz 2025: manter PAM acima de 65 mmHg após o ROSC.

Interpretação clínica: Nada novo. A meta de PAM ≥ 65 mmHg já é amplamente adotada em terapia intensiva. A novidade aqui é o reforço na monitorização contínua e na individualização do tratamento, ajustando condutas conforme a resposta clínica do paciente.


4. Bicarbonato: Uso seletivo, não protocolar

Diretriz 2025: uso indicado em situações específicas, como hipercalemia, acidose metabólica grave e intoxicações.

Interpretação clínica: A orientação apenas reforça o uso racional da droga. O bicarbonato continua sendo contraindicado no uso rotineiro da PCR, e só deve ser administrado com base em indicação clínica bem definida.


5. Epinefrina no pós-PCR: Cuidado com o uso automático

Diretriz 2025: recomenda o uso de epinefrina no pós-PCR.

Interpretação clínica: Aqui há um alerta importante. O guideline tende a engessar condutas que deveriam ser mais individualizadas. O uso indiscriminado de epinefrina pode ser prejudicial, especialmente em pacientes normocárdicos ou taquicárdicos. Nesses casos, a noradrenalina pode ser mais apropriada, por não aumentar tanto a frequência cardíaca.

Mensagem central: raciocínio clínico acima de algoritmo. Avalie o contexto hemodinâmico antes de definir a droga vasoativa.


6. Oxigenação: Menos é mais

Diretriz 2025: evite hiperóxia após o ROSC. Use a menor FiO2 possível para manter SpO2 acima de 94%.

Interpretação clínica: Essa prática já está consolidada há anos. A hiperóxia pode ser tão danosa quanto a hipóxia, especialmente em pacientes com lesão cerebral pós-parada. A conduta correta é iniciar com FiO2 de 100% e reduzir gradualmente conforme a saturação estabiliza.


7. Convulsões e Fenitoína: Um alerta antigo

Diretriz 2025: não utilizar fenitoína como prevenção de convulsões de rotina apenas após um evento.

Interpretação clínica: A fenitoína não é indicada para controle de crises convulsivas em curso, apenas como prevenção em pacientes que já tiveram um episódio. Essa recomendação já consta em diversos consensos neurológicos. O foco segue sendo o cuidado neurológico pós-parada, com ênfase na proteção cerebral.


Reflexão: O que o ACLS 2025 realmente nos ensina?

Apesar da expectativa por grandes mudanças, a verdade é que o guideline 2025 pouco altera a prática clínica consolidada nos últimos anos. Em muitos pontos, apenas reafirma condutas já conhecidas — e, infelizmente, deixa lacunas importantes, como a ausência de recomendações claras sobre o uso do POCUS (ultrassom point-of-care) durante a PCR, uma ferramenta cada vez mais indispensável no atendimento avançado.

Essa ausência reforça uma crítica importante: o risco de transformar um protocolo clínico em um script engessado, desprovido de raciocínio.

Quem apenas decora algoritmos, vive defasado.
Quem entende o paciente, já está atualizado — mesmo antes da diretriz sair.


O que você realmente precisa dominar para atender uma PCR com segurança?

  1. Suporte Básico de Vida (BLS)
    Compressões eficazes, ritmo adequado, ventilação correta.
  2. Manejo de Via Aérea
    Uso de AMBU, cânulas e dispositivos supraglóticos (ex: máscara laríngea).
  3. Reconhecimento dos ritmos de PCR
    Saber interpretar o ECG e identificar FV, TVSP, AESP e assistolia.
  4. Desfibrilação
    Compreender a mecânica e as indicações corretas.
  5. Uso racional das drogas
    Epinefrina, amiodarona, bicarbonato e vasopressores no pós-ROSC.
  6. Cuidados pós-parada
    Controle de temperatura, oxigenação, hemodinâmica e neuroproteção.
  7. Ultrassom Point-of-Care (POCUS)
    Como ferramenta diagnóstica e de decisão durante a PCR.

Conclusão: guideline é mapa, não roteiro

Para dominar o ACLS, você precisa mais do que decorar fluxogramas. Precisa entender o paciente, a fisiologia e o contexto clínico. Só assim é possível tomar decisões rápidas, seguras e com impacto real na sobrevida e recuperação do paciente.

Minha dica prática? Monte seu raciocínio clínico como um funil:

  1. Qual a história desse paciente?
  2. O que ainda posso reverter?
  3. Qual conduta tem o maior impacto agora?

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