Guia clínico atualizado sobre insuficiência cardíaca descompensada: diagnóstico, classificação clínica (perfil hemodinâmico), exames iniciais, tratamento farmacológico, suporte circulatório e transplante cardíaco.
O que é Insuficiência Cardíaca Descompensada?
A insuficiência cardíaca descompensada (ICD) é uma das principais causas de internação cardiovascular.
- Representa a evolução aguda ou crônica da IC, quando há piora da congestão ou do baixo débito cardíaco, exigindo atendimento hospitalar imediato.
- Mortalidade intra-hospitalar varia entre 4–12%, e a taxa de reinternação em 30 dias pode ultrapassar 20% .
Diagnóstico Clínico
Principais sintomas
- Dispneia progressiva, ortopneia, DPN.
- Edema periférico, ascite, aumento da circunferência abdominal.
- Fadiga, tontura, hipotensão.
Sinais de gravidade
- Estertores pulmonares, estase jugular patológica.
- B3 audível (sobrecarga de volume).
- Hipotensão arterial e extremidades frias → baixo débito.
- Hipoperfusão sistêmica: oligúria, alteração do sensório, acidose metabólica.
Classificação Clínica (Perfis Hemodinâmicos)
Baseia-se em congestão (presente/ausente) e perfusão (adequada/inadequada):
- Quente e úmido (congesto, perfusão adequada) – mais comum.
- Quente e seco (compensado).
- Frio e úmido (baixo débito + congestão) – prognóstico ruim.
- Frio e seco (hipoperfusão sem congestão) .
Essa avaliação orienta o tratamento e a necessidade de suporte intensivo.
Exames Iniciais
- BNP/NT-proBNP: ajudam a diferenciar causas de dispneia.
- ECG: pode mostrar arritmias, isquemia ou distúrbios de condução.
- Raio-X de tórax: congestão pulmonar, cardiomegalia, derrame pleural.
- Ecocardiograma: fundamental para avaliar FE, disfunção diastólica, valvopatias.
- Gasometria e lactato: úteis em hipoperfusão e choque cardiogênico .
Tratamento da IC Descompensada
Medidas iniciais
- O2 se SatO₂ < 90%.
- Monitorização clínica e hemodinâmica (FC, PA, diurese, lactato).
- Suspender drogas que pioram IC aguda (beta-bloqueador só deve ser reduzido em casos de choque ou bradicardia sintomática grave).
Terapia de congestão
- Diuréticos de alça (furosemida): EV, dose inicial 40–80 mg (ou o dobro da dose oral habitual).
- Associar tiazídico/metolazona em resistência diurética.
Vasodilatadores
- Nitroglicerina ou nitroprussiato, se PAS > 100 mmHg.
- Reduzem pré e pós-carga, melhorando sintomas.
Inotrópicos
- Indicados em perfis “frios” (hipoperfundidos).
- Dobutamina ou milrinona → aumentam débito cardíaco.
- Evitar uso prolongado pelo risco de arritmias e mortalidade .
Suporte Avançado
- Balão intra-aórtico (BIA): pode estabilizar temporariamente choque cardiogênico.
- Dispositivos de assistência ventricular (DAV): usados como ponte para recuperação, transplante ou decisão terapêutica.
- ECMO venoarterial: em casos graves refratários.
Transplante Cardíaco
Indicado em pacientes com:
- IC avançada refratária a tratamento otimizado.
- FE < 25%, VO₂ pico < 12–14 ml/kg/min.
- Ausência de contraindicações graves.
Imunossupressão pós-transplante
- Combinações de corticosteroides, inibidores da calcineurina (ciclosporina, tacrolimus) e agentes antiproliferativos (micofenolato, azatioprina).
- O acompanhamento inclui prevenção de rejeição, infecções oportunistas e complicações metabólicas .
Conclusão
A IC descompensada é uma síndrome de alta morbimortalidade que exige diagnóstico rápido, estratificação clínica (perfis hemodinâmicos) e tratamento direcionado.
O uso precoce de diuréticos, vasodilatadores e inotrópicos, além de suporte avançado em casos refratários, é essencial para reduzir mortalidade.
O transplante cardíaco permanece como opção definitiva para pacientes em fase terminal.